Artista usa fauna brasileira para transformar quartos infantis em ambientes educativos
06/12/2025
(Foto: Reprodução) Artista usa fauna brasileira para transformar quartos infantis em ambientes educativos
Marina Mohallem
Nas paisagens frias e montanhosas da Serra da Mantiqueira, em Itajubá (MG), a artista e bióloga Marina Mohallem cresceu cercada por araucárias, sabiás e cores que acabariam moldando o seu olhar para o mundo.
Hoje, aos 30 anos, ela transformou esse vínculo profundo com a natureza em um trabalho que une arte, ciência e educação ambiental, levando a fauna brasileira para dentro de quartinhos infantis e oficinas de pintura.
“Cresci profundamente conectada à Mantiqueira. As araucárias sempre me encantaram e o canto do sabiá me traz uma paz enorme”, conta Marina, que pinta desde a infância.
Trabalho da artista e bióloga Marina Mohallem une arte, ciência e educação ambiental
Marina Mohallem
O interesse pela natureza se aprofundou quando ela ingressou em Ciências Biológicas na UNIFAL e, mais tarde, no mestrado em Ciências Ambientais.
Foi no trabalho de campo, acompanhando processos de polinização, que sua arte encontrou novos temas, formas e cores.
Em 2020, Marina criou o perfil @mamoharte, onde começou a divulgar suas pinturas em madeira, tela, pratos e outras superfícies. As encomendas cresceram, e, entre flores e aves nativas, surgiu uma demanda que mudaria sua trajetória: pinturas decorativas para o quarto de bebês e crianças.
Marina cresceu cercada por araucárias e, hoje, transforma essa memória em pintura
Marina Mohallem
A arte como ponte para a conservação
Para Marina, a arte tem um papel essencial na construção de um olhar mais sensível para a fauna e flora do país.
“A arte desperta conexão. Quando alguém observa um pássaro ou uma araucária numa pintura, passa a ver aquela espécie com mais respeito. Quando a gente conhece, a gente cuida”, afirma.
Ela ressalta que, em seus trabalhos, sempre busca incluir um pouco de conhecimento ecológico, seja nas oficinas ou nas pinturas. “A arte transforma encantamento em consciência”.
A artista promove oficinas de pintura mensais em Itajubá (MG)
Marina Mohallem
Do “safari” ao Brasil real
Quando começou a pintar quartinhos infantis, Marina percebeu que a maioria dos pedidos seguia o padrão já consolidado do universo infantil: leões, girafas e elefantes.
“Faltavam referências com animais brasileiros. Isso acontece porque as famílias encontram muitos modelos prontos de ‘safari’. Já a fauna brasileira ainda aparece pouco na decoração, apesar de ser riquíssima e linda”, explica.
Quarto decorado com araras, onça-pintada, bicho-preguiça e macaco trouxe novos clientes para Marina
Marina Mohallem
A “virada de chave” veio quando uma mãe pediu um quartinho totalmente dedicado à biodiversidade brasileira: araras, onça-pintada, bicho-preguiça e macaquinhos.
O trabalho viralizou, trouxe novos clientes e abriu espaço para algo que Marina sempre sonhou: ver crianças crescendo cercadas pela fauna nativa.
Em outra pintura que ganhou grande repercussão, ela retratou a paisagem da Mantiqueira com tucano, lobo-guará, sabiás, sagui, joão-de-barro e araucárias.
Entre seus animais preferidos para o universo infantil está o sabiá-laranjeira
Marina Mohallem
“As pessoas começaram a enxergar essa possibilidade e a se encantar com a nossa biodiversidade”.
“A araucária é uma espécie que sobreviveu a grandes extinções e continua aqui, resiliente. Para mim, ela representa a força de ser artista no Brasil”, completa.
Hoje, ela já decorou quatro quartinhos totalmente inspirados em espécies brasileiras, número que deve crescer nos próximos meses.
Um ambiente com identidade e significado
Marina acredita que incluir espécies brasileiras na decoração cria ambientes mais verdadeiros e afetivos.
“Não é só bonito. É familiar. É o sabiá que canta na janela, o sagui que vive nas matas da Mantiqueira, o lobo-guará que faz parte da nossa história. Isso traz identidade”, explica.
A artista também leva sua arte para canecas, pratos e telas
Marina Mohallem
E ela acredita que essa presença desde a infância pode transformar a relação das crianças com a natureza:
“Quando a criança cresce vendo um lobo-guará, um tucano ou uma arara na parede, ela aprende a reconhecer, sentir curiosidade e carregar um sentimento de cuidado. É como plantar uma semente”.
Entre seus animais preferidos para o universo infantil estão o sabiá-laranjeira e espécies ameaçadas, como onça-pintada, lobo-guará, mico-leão-dourado e tatu-bola, para estimular consciência desde cedo.
João-de-barro pintado no interruptor de um quarto infantil
Marina Mohallem
A arte como ferramenta de educação ambiental
Em 2025, Marina decidiu se dedicar integralmente à arte, e também ao ensino. Ela organiza oficinas de pintura mensais em Itajubá.
Cada encontro aborda uma espécie ou conjunto da fauna e flora regional, com aula de ecologia antes da prática artística. Ao final, os participantes recebem uma muda de araucária plantada em caneca pintada pela própria artista. A artista também leva sua arte para pratos, telas, canecas e madeira.
Marina produz enfeites de Natal com aves
Marina Mohallem
“Quero criar materiais educativos, novos temas e fazer parcerias com escolas. Também sonho com projetos com prefeituras, pintando murais e postes com espécies locais, com seus nomes científicos e populares. Assim, a natureza volta para o espaço urbano”, conclui.
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