'Perder seguidores não me afeta': Nilüfer Yanya fala sobre política, composição e estreia no Brasil com show no Cine Joia
12/11/2025
(Foto: Reprodução) Nilüfer Yanya.
Divulgação
Conhecida pela sonoridade que mistura rock, soul e pop experimental, a britânica com ascendência turca Nilüfer Yanya, de 30 anos, se apresenta pela primeira vez no Brasil, nesta quarta-feira (12), no Cine Joia.
Com uma trajetória marcada pela honestidade emocional e pelos riffs potentes de guitarra, Yanya conversou com o g1 sobre as expectativas para o show de estreia, o processo de composição e a importância da posição política de artistas.
“Nunca estive no Brasil, mas sempre quis visitar. Estou bem animada e acho que os brasileiros amam música, então vai ser um bom show”, afirmou.
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Yanya tem três discos lançados: Miss Universe (2019), Painless (2022) e o mais recente, My Method Actor (2024). Ela se apresenta pela ÍNDIGO, label curatorial com foco em sons indies da 30e, que também é responsável pelos shows de Massive Attack e Weezer.
Nascida em Londres e filha de artistas visuais, lançou o primeiro álbum aos 23 anos. De lá para cá, passou por uma transformação pessoal e artística que se reflete em cada novo trabalho.
“Acho que fui crescendo e amadurecendo junto com os álbuns que lancei. Hoje me sinto muito mais como uma pessoa real. Quando o primeiro disco saiu, eu ainda estava no começo dos meus 20 anos, e agora acabei de fazer 30. Muita coisa mudou nesse tempo, mas, ao mesmo tempo, continuo me sentindo a mesma pessoa. É uma evolução lenta — e meio estranha, às vezes.”
Entre sua discografia, Painless pode ser considerado um disco pandêmico, já que foi feito durante a pandemia da Covid-19. Para Yanya, foi nessa produção que ela começou a se ver como uma pessoa mais madura.
“A maior transformação aconteceu entre Miss Universe e Painless, e depois entre Painless e My Method Actor. Ainda há uma grande mudança, mas esses dois últimos trabalhos parecem mais conectados entre si. Em Miss Universe eu tinha muitas ideias, estava tentando descobrir coisas. Já em Painless, senti que me afastei de algumas delas. E em My Method Actor, tentei continuar com o mesmo espírito e energia, mas buscando fazer tudo de forma mais refinada. As músicas são intensas de maneiras diferentes — e, dessa vez, as letras estão mais honestas, menos enigmáticas.”
“Escrevi esse álbum há cerca de dois anos, então já me sinto uma pessoa diferente agora. Acho que My Method Actor representou bem aquele momento e me ajudou a colocar muita coisa em perspectiva. Depois de concluir os projetos deste ano, sinto que estarei pronta para seguir adiante e começar uma nova fase — já estou, inclusive, pensando em novas ideias. Na época, o disco refletia exatamente onde eu estava: algo muito atual e presente.”
Nilüfer Yanya.
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A voz como instrumento
Queridinha da crítica especializada, Nilüfer é frequentemente aclamada por veículos como Pitchfork e The Fader pela forma como sua voz se une à melodia, funcionando quase como um instrumento dentro das composições.
“Eu tento fazer o casamento perfeito. Você não está ouvindo só a letra ou só a melodia — está ouvindo as duas juntas. E isso faz com que as letras soem de forma mais natural ao ouvido. Quando tudo se encaixa, você pensa: ‘ah, essa letra fazia sentido’. É algo que tenho tentado trabalhar bastante, e acaba facilitando o processo de composição. Porque, em vez de mudar a melodia para caber nas palavras, você muda as palavras para caber na melodia.”
Enquanto conversava com o g1, Yanya também exibia os dois gatos que resgatou durante férias no Havaí. “Ainda não sabemos como vamos chamá-los, eles estão sem nome”, disse, rindo, enquanto segurava os bichinhos.
Nilüfer segurando um dos seus novos gatos.
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Com bom humor, ela contou que costuma compor fora do estúdio.
“Acho que, musicalmente e na parte de produção, é onde recebo muita inspiração. Mas acredito que a música precisa vir de dentro, o que é meio louco — de onde isso vem? Eu me considero uma pessoa muito melódica, então as melodias me influenciam muito. E isso pode vir de qualquer estilo, gênero ou época. Escrever uma música e fazer um disco são experiências bem diferentes. Não completamente diferentes, mas... são processos distintos.”
“Você me perguntou se sou mais produtora ou letrista? Definitivamente, letrista. Gostaria de saber produzir, mas não gosto de passar muito tempo olhando para telas. Na verdade, não gosto muito de estar em estúdio — é tipo: ‘me tirem daqui’. Quando estou trabalhando em algo, prefiro ir ao parque, escrever em outro lugar. Ficar trancada em uma sala me deixa desconfortável.”
Posição política nas redes
Seguindo a linha de artistas que ainda não fazem parte do mainstream, Yanya usa suas redes sociais para se posicionar politicamente, especialmente sobre a guerra contra a Palestina.
Ela afirma que chegou a perder seguidores por conta de suas publicações, mas não se importa com isso.
“Perder seguidores não me afeta. Até porque isso não é real, sabe? Seguidores não são algo concreto. Para mim, isso é algo importante. Quando acontecem coisas no mundo real e você tem uma plataforma, e sente que é algo sobre o qual precisa falar, acho que devemos falar. Muitas vezes, as pessoas acham que não podem se posicionar porque não dominam o assunto. Mas não devemos deixar o medo nos silenciar, nem deixar de dizer o que realmente acreditamos.”
“Ser artista significa ter uma plataforma, um espaço onde as pessoas te ouvem. Às vezes, quando posto algo mais político, recebo comentários do tipo: ‘vou deixar de te seguir’ ou ‘você devia só fazer música’. Mas, sabe, eu também sou uma pessoa, tenho um cérebro, penso, sinto — então, por que eu não poderia falar sobre o que acredito? As pessoas às vezes tratam artistas como se fossem figuras artificiais, não seres reais capazes de ter opiniões. E, se for assim, talvez elas prefiram seguir outros artistas".
Yanya acrescenta que sempre existirão críticos, mas acredita que as redes sociais não vão durar para sempre — e que, por enquanto, elas são apenas um meio de divulgar e compartilhar música.
Entre suas influências, a artista cita PJ Harvey, Pixies, Elliott Smith e Big Thief.
“Essas coisas mudam o tempo todo, mas acho que sempre fui uma pessoa muito melódica. As melodias me influenciam mais do que qualquer outra coisa — e isso pode vir de qualquer gênero ou época.”
Durante a passagem pelo Brasil, Yanya diz que pretende conhecer mais nomes da música nacional, além da MPB.
Turnê com Lorde e sonho de ter um estúdio próprio
A passagem pelo Brasil será um dos últimos shows solo antes de embarcar na “Ultrasound World Tour”, turnê mundial de Lorde, na qual Yanya será responsável pela abertura dos shows na Europa.
Ela conta que o convite surgiu de forma orgânica e inesperada, e que está animada para dividir o palco com uma artista que admira há anos.
“Estou animada. Gosto muito da Lorde e estou curiosa para ouvir as novas músicas. É louco, porque acompanho o trabalho dela desde os meus 18 anos. Não sei se ela é mais jovem ou mais velha, mas acho que temos idades parecidas — ela tem 28 agora, certo? Lembro quando começou, com 15 anos, e já tinha uma base enorme de fãs. É bonito ver o quanto cresceu.”
Para o futuro, Yanya diz não ter muitos planos — prefere viver um dia de cada vez, ao lado dos dois novos gatos, que, até a publicação desta reportagem, ainda estavam sem nome.
Mas, como não gosta de ficar presa em estúdio, tem como objetivo (quando o dinheiro vingar), abrir o seu próprio estúdio, de sua maneira.
SERVIÇO
📅 Quando? Quarta (12)
📍 Onde? Praça Carlos Gomes, 82 - Liberdade, Centro
💲 Quanto? partir de R$ 200
➡️Mais informações e ingressos