Como Covid e Oropouche podem antecipar risco de doenças neurodegenerativas, segundo estudo da USP

  • 08/12/2025
(Foto: Reprodução)
Como Covid e Oropouche podem antecipar risco de doenças neurodegenerativas Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP identificaram que o coronavírus (SARS-CoV-2) e o vírus Oropouche conseguem infectar células do cérebro humano adulto, provocar inflamação e alterar proteínas associadas a doenças neurodegenerativas. Os resultados ajudam a explicar sintomas como confusão mental e perda de memória e levantam a hipótese de que essas infecções possam aumentar ou antecipar, em parte dos pacientes, o risco de doenças neurodegenerativas. A pesquisa, concluída neste ano, integra o doutorado da biomédica Gláucia Maria de Almeida, sob orientação do professor Adriano Silva Sebollela. Resultados iniciais já tinham sido publicados em revista internacional em 2021, descrevendo como o Oropouche age no tecido cerebral humano. ✅Clique aqui para seguir o canal do g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp O estudo buscou responder se os dois vírus realmente conseguem invadir o sistema nervoso central e o que acontece com o cérebro quando isso ocorre. Para isso, os pesquisadores usaram pequenas fatias de cérebro humano adulto, retiradas durante cirurgias no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Esses fragmentos são mantidos vivos em laboratório e preservam a organização natural do tecido. O modelo preserva a arquitetura do cérebro e a interação entre diferentes tipos de células, o que aproxima o experimento da situação real no organismo. “Em ambos os casos, vimos de maneira muito clara que esses vírus são sim capazes de infectar células do sistema nervoso central humano. E isso em tecido cerebral humano adulto, não em modelos animais. Esse é um ponto importante, porque nosso modelo usa tecido coletado em cirurgias feitas no Hospital das Clínicas. Isso nos permitiu mostrar com precisão que os dois vírus conseguem infectar o cérebro humano”, explicou Sebollela, em entrevista ao g1. Segundo ele, essa evidência ajuda a conectar os achados de laboratório às manifestações neurológicas observadas em pacientes com Covid-19 e Febre do Oropouche. Tecido cerebral humano usado no estudo; modelo permite observar como vírus infectam células reais do cérebro adulto Murilo Corazza/g1 Diferenças entre Covid e Oropouche Embora os dois vírus cheguem ao cérebro, eles se comportam de forma diferente em relação às células-alvo. No caso do SARS-CoV-2, o estudo mostrou que o vírus infecta principalmente os astrócitos, células que alimentam e regulam os neurônios. Quando atingidos, parte desses astrócitos morre e outra parte passa a liberar substâncias inflamatórias. Essa inflamação prejudica a comunicação entre os neurônios. “Parte dessas células morre, e outra parte libera fatores inflamatórios. Essa inflamação gera um efeito em cadeia, porque o astrócito é responsável por manter os neurônios funcionando bem. Então, essa inflamação causada pela infecção prejudica diretamente a função dos neurônios. Isso está ligado a sintomas como perda de memória e dificuldades cognitivas”, detalhou Sebollela. Coronavírus infecta principalmente astrócitos, células que sustentam e regulam os neurônios, enquanto o Oropouche atinge a micróglia, responsável pela defesa do cérebro GETTY IMAGES via BBC Já o vírus Oropouche mostrou preferência por infectar principalmente a micróglia, célula de defesa que atua como “sistema imunológico” do cérebro. Quando essa célula, que deveria proteger o sistema nervoso, é infectada, o dano se amplia e a inflamação fica mais intensa. Para Gláucia, a capacidade do Oropouche de invadir justamente a célula encarregada de proteger o sistema nervoso é um dos pontos mais relevantes do estudo. “A micróglia é a célula de defesa do cérebro. É o nosso sistema imunológico dentro do sistema nervoso central. Então, para mim, o achado mais interessante foi ver que o Oropouche consegue infectar justamente essa célula que deveria combater o vírus. Isso revela uma relação biológica muito complexa e que pode amplificar o dano”, afirmou. Inflamação e proteína Nos testes com o Oropouche, o grupo observou um aumento da proteína Tau fosforilada. A Tau é uma proteína importante para manter a estrutura dos neurônios. Em condições normais, ela é “ligada e desligada” pelo corpo, um processo chamado fosforilação. Quando esse equilíbrio se rompe, a Tau fica excessivamente fosforilada, acumulada e associada à morte neuronal e perda de memória. “No tecido infectado pelo Oropouche, detectamos níveis aumentados de Tau fosforilada, indicando que os neurônios estão sendo afetados. Isso mostra um quadro de neurodegeneração em curso no contexto da infecção”, explicou Gláucia. No caso do coronavírus, a equipe também viu aumento de moléculas inflamatórias e sinais de inflamação generalizada do tecido. Pesquisadores analisaram a ação do coronavírus e do Oropouche em laboratório para entender mecanismos de inflamação no sistema nervoso Murilo Corazza/g1 Confusão mental e perda de memória Durante a pandemia, muitos pacientes com Covid-19 relataram confusão mental, “névoa cerebral” e perda de memória após a fase aguda da infecção. Há relatos semelhantes em quadros associados ao Oropouche, que também pode provocar manifestações neurológicas. Para Gláucia, a explicação está justamente no que foi visto no laboratório: “Quando o sistema está inflamado, isso afeta diretamente como os neurônios funcionam. Impacta atenção, memória, fala. A inflamação no tecido cerebral, local, e também sistêmica, tem um peso grande nessas alterações”, afirmou. Sebolella avalia que o estudo contribuiu justamente para responder por que um vírus que, a princípio, não era associado a problemas cerebrais passou a estar ligado a tantos relatos neurológicos. “Mostramos, em tecido cerebral humano adulto, que o vírus pode chegar ao cérebro e, uma vez lá, desencadear uma neuroinflamação que compromete a função dos neurônios”, disse. Apesar das alterações observadas, como inflamação crônica, dano celular e aumento de Tau fosforilada, os pesquisadores são cautelosos ao falar em causa direta de doenças como Alzheimer. “É cedo para dizer que covid ou Oropouche causam Alzheimer. Mas, quando o vírus chega ao cérebro, existe a possibilidade de evoluir para perda cognitiva, e em alguns casos, para quadros mais graves”, afirma Sebollela. Segundo Gláucia, a ciência já observa um possível elo entre infecções virais ao longo da vida e a antecipação do início de doenças neurodegenerativas. Não se trata de causa direta, mas de um fator a mais de risco em pessoas vulneráveis. Em outras palavras, a infecção não é, por si só, garantia de que o paciente terá demência, mas pode ser um fator a mais em um cenário multifatorial que envolve genética, envelhecimento e outras condições de saúde. Situações em que o cérebro é exposto a vírus com capacidade de atingir o sistema nervoso podem contribuir para o desenvolvimento de doenças degenerativas ou adiantar um quadro que, em tese, apareceria mais tarde Novas pesquisas O grupo agora compara a ação do Oropouche com a de outro vírus conhecido por causar danos neurológicos: o herpes simples tipo 1 (HSV-1). A ideia é identificar mecanismos comuns e possíveis alvos para tratamentos. “Estamos perto de apontar quais são os caminhos moleculares que o Oropouche usa para infectar o cérebro humano. Isso pode orientar estratégias terapêuticas no futuro”, disse Sebollela. Gláucia, atualmente em pós-doutorado na França, estuda como cada tipo de célula do cérebro reage individualmente à infecção. Ela planeja voltar ao Brasil para seguir na área e montar uma linha de pesquisa própria. “Quero trazer essa experiência de volta, montar uma linha de pesquisa em neurologia e continuar investigando a relação entre vírus e doenças neurodegenerativas”, projeta. Fragmentos de cérebro humano adulto são preparados em cortes delicados para permitir a observação da infecção pelos vírus em microscópio Murilo Corazza/g1 *Sob supervisão de Helio Carvalho Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região

FONTE: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2025/12/08/como-covid-e-oropouche-podem-antecipar-risco-de-doencas-neurodegenerativas-segundo-estudo-da-usp.ghtml


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