E aí, acha que os filmes estão ficando mais longos? Você não está sozinho nessa...
12/08/2025
(Foto: Reprodução) Filmes dos anos 2020 estão mais longos do que os de 1980 e 1990
Sair do cinema com a sensação de que o filme se alongou mais do que deveria se tornou cada vez mais comum. E não é apenas impressão sua: os filmes realmente estão ficando mais longos. Levantamentos recentes mostram que a duração média dos filmes campeões de bilheteria aumentou.
Por exemplo, os dez filmes mais lucrativos de 2023 tinham, em média, 2h20 de duração — 30 minutos a mais do que a média das décadas de 80 e 90. A tendência segue firme com outros exemplos como "Assassinos da Lua das Flores" (3h25), "Duna: Parte 2" (2h45). "Oppenheimer" dura exatas 3 horas e "Batman" tem 2h56.
Cillian Murphy em cena de 'Oppenheimer'
Divulgação
A discussão já chegou aos bastidores dos grandes festivais. Em entrevista à revista "Variety", Alberto Barbera, diretor do Festival de Veneza, admitiu que os programadores do evento têm avaliado os filmes com uma ressalva: "Ele seria melhor com 10 ou 20 minutos a menos".
"Os cineastas estão acostumados com séries de TV longas e bem-sucedidas, e sentem a necessidade de replicar esse tipo de narrativa. Também podem querer que seu filme seja um 'evento', algo que só se justifica com uma experiência na tela grande, o que muitos associam a uma duração mais extensa."
Para o diretor Brady Corbet, indicado ao Oscar com os 3h35 minutos de O Brutalista, o tempo não deve ser visto como um problema. Ao g1, ele defendeu a necessidade de dar espaço à complexidade de sua história, que acompanha 35 anos da vida de seus personagens. "Às vezes, mais é mais", resumiu.
Corbet comparou as críticas ao tempo de duração com o julgamento do tamanho de uma obra de arte. "É como criticar uma pintura por ser grande demais", comparou. "A conversa sobre a duração é interessante para mim, especialmente numa época em que todo mundo assiste tanta televisão. Eu também não sei o que todo mundo está fazendo com o seu tempo que é tão precioso. Tem maneira melhor de passar o dia do que no cinema com uma xícara de café?"
Brady Corbet, ao centro, comanda gravações de 'O brutalista'
Divulgação
Entre os cineastas, há quem veja o aumento da duração com cautela. Em entrevista à revista "Hollywood Reporter", Alexander Payne, diretor e duas vezes vencedor do Oscar de roteiro adaptado por "Os descendentes" e "Sideways: Entre umas e outras", defendeu que a duração deve sempre ser enxuta, mesmo quando o filme é longo.
"Você quer que seu filme seja o mais curto possível. Se ele tem três horas e meia, que seja a versão mais enxuta de um filme de três horas e meia", explicou Payne. "O problema é quando a duração não é justificada pela narrativa." Para ele, grandes obras (em mais de um sentido) como "O Poderoso Chefão II" e "Os Sete Samurais" provam que o tempo pode voar quando bem utilizado. Mas, hoje, isso nem sempre acontece.
A justificativa mais comum entre os defensores dos filmes longos é a busca por aprofundamento. Foi o que explicou James Cameron ao comentar as três horas e dez minutos de "Avatar: O Caminho da Água". O diretor disse que queria mergulhar nas relações entre os personagens e entregar "uma experiência emocional à altura da espera entre o primeiro e o segundo filme".
James Cameron com a câmera durante gravação de 'Avatar: O Caminho da Água'
Mark Fellman/20th Century Studios
Para alguns atores, o tempo sempre depende da construção da história. Carey Mulligan disse entender quem disse que o tempo "pode se arrastar" durante a sessão de "Maestro", drama com mais de 2h10.
Kristen Stewart, por sua vez, comentou que "filmes grandes pedem muito do público". Margot Robbie chegou a elogiar o ritmo mais ágil dos clássicos dos anos 1990, como "As Patricinhas de Beverly Hills" e "Legalmente Loira". "A energia de um filme pode se perder se a história não justifica a cada minuto", ela opinou.
A discussão, como tantos desses filmes, é longa. Os criadores parecem divididos entre o desejo de oferecer uma experiência completa e a necessidade de manter o ritmo. E, claro, não cansar o público. Afinal, não basta levar as pessoas ao cinema. O ideal é que elas não durmam ou decidam não ir embora dele.