Rio Doce ainda é 'paciente crônico' dez anos depois do desastre de Mariana

  • 05/11/2025
(Foto: Reprodução)
Rio Doce ainda é 'paciente crônico' dez anos depois do desastre de Mariana Dez anos depois do desastre de Mariana, percorrer as comunidades que estão ao longo da bacia do Rio Doce é se deparar com histórias e tradições interrompidas. Da água saía fonte de trabalho, lazer e criação de memória afetiva de muitas famílias. A pesca ensinada desde criança por gerações hoje não existe mais ou foi adaptada. Agora, a prática é feita em tanques, poços ou se transformou na revenda de peixes retirado de outros locais. Até o consumo da água captada e tratada gera desconfiança. 📲 Clique aqui para seguir o canal do g1 ES no WhatsApp O g1 percorreu Baixo Guandu, Colatina e Linhares, municípios cortados pelo Rio Doce, nas regiões Noroeste e Norte do Espírito Santo, para mostrar o que as pesquisas indicam sobre a condição ambiental após essa década. Metais ainda estão presentes nas amostras coletadas no rio e no mar e já atingiram animais de toda a cadeia alimentar, desde menores organismos até tartarugas, aves e baleias. A contaminação ocorreu depois que mais de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério foram despejados no meio ambiente, com o colapso na estrutura da Samarco, no dia 5 de novembro de 2015. Dezenove pessoas morreram. O volume de lama (suficiente para encher 16 mil piscinas olímpicas) contaminou a bacia do Rio Doce e parte do material percorreu cerca de 600 km até alcançar o Oceano Atlântico, no litoral capixaba. A tragédia é a maior catástrofe ambiental na história do país e o maior rompimento envolvendo barragens de rejeitos de mineração do mundo. E, de acordo com pesquisadores, a contaminação segue em atividade no rio e no mar. LEIA TAMBÉM: TRANSFERÊNCIA DE RENDA: Começa pagamento de auxílio a pescadores e agricultores do ES atingidos pelo desastre de Mariana CADEIA ALIMENTAR: Metais do desastre de Mariana chegam às baleias no litoral Com o rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais, 40 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério atingiram o Rio Doce. Espírito Santo. Foto Leonardo Merçon / Arte g1 Rio Doce é um paciente crônico O coordenador técnico do Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática (PMBA) e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Fabian Sá, faz o monitoramento dos ambientes afetados pelo desastre desde 12 dias antes da chegada da lama ao Espírito Santo até hoje. Segundo o professor, há sinais de recuperação ambiental, mas os efeitos da lama ainda são sentidos em toda a bacia do Rio Doce e no mar. Em uma analogia feita por ele, é como se o Rio Doce fosse um paciente com uma doença crônica, que vem sendo tratada. Houve um "momento agudo": De alta intensidade do impacto, do início do rompimento em novembro de 2015 até janeiro de 2016. E agora ainda existe um "momento crônico": A intensidade do impacto diminuiu, mas persiste até hoje. Satélite da Nasa mostrou evolução da lama no Rio Doce em novembro de 2015. Espírito Santo. Foto: Reprodução/ WorldView Nasa O levantamento da situação ambiental é feito pela Ufes, que coordena o trabalho, em parceria com 37 instituições no Brasil inteiro, entre públicas e privadas, e mais de 520 pesquisadores formados ao longo desses dez anos. Quatorze pontos são monitorados trimestralmente no Rio Doce, além de outros cinco no litoral do Espírito Santo. Em alguns deles, 100% campanhas amostrais coletadas até hoje apresentaram material de rejeito. Os impactos ainda aparecem, principalmente, quando há a entrada de material contaminante retido em barragens de Minas Gerais, assim como quando há chuva no leito do rio e frentes frias no ambiente marinho. “O quadro de contaminação ainda é grave, a tragédia não acabou, é uma tragédia em andamento. Mais da metade do rejeito que saiu da barragem continua no leito do rio ou está depositado no mar. Então, cada enchente grande que tem carreia esse sedimento contaminado novamente, ressuspende do fundo, disponibilize para os organismos e recomeça a contaminação da cadeia alimentar. E no mar, quando entra uma frente fria, ele fica completamente marrom em toda a costa, levanta tudo que está no fundo, a cerca de dez metros de profundidade, a agente chama de antepraia, é ali que fica esse sedimento”, explicou Joca Thome, oceanógrafo e Coordenador Nacional no Centro Tamar-ICMBio. Dez ano após desastre, pesquisadores encontram pequenos peixes com o organismo debilitado e trato digestivo dilacerado cheio de minério PMBA/Fest Entre os metais frequentemente encontrados nas amostra colhidas, diretamente relacionados com o rompimento, estão o alumínio, manganês, ferro, crômio, zinco, e chumbo. Expostos a esses materiais, os animais ficam mais suscetíveis a doenças. "Eles estão frágeis, com organismo debilitado, começam a ter má formação, aparecem tumores, as larvas de peixe a gente encontra como trato digestivo dilacerado cheio de minério, tartarugas com tumores, são coisas que nós só vamos ver o resultado ao longo do tempo”, apontou Joca. Entre os animais também houve aumento de espécies exóticas, que são mais fortes e competitivas, em relação às espécies nativas, e a bacia ficou mais pobre em biodiversidade. Vale lembrar, de acordo com os pesquisadores, que a contaminação por metais pesados é persistente e pode levar décadas para diminuir, no entanto, não vai desaparecer. “Os metais não saem do ambiente, é diferente de uma poluição de matéria orgânica que vai se degradando com o tempo, por ações de microrganismos, como ocorrer com um derreamento de petróleo, por exemplo. Com os metais não, eles se transferem de locais e, dessa forma, a contaminação vai se diluindo de uma área menor para uma maior, mas eles persistem”, esclareceu Fabian. Recuperação do rio depende de ações integradas A ausência de ações efetivas de recuperação da bacia do Rio Doce é uma das principais causas da lentidão na retomada ambiental. "Essa melhora menos significativa ao longo do tempo se dá pela falta de ações de recuperação da bacia do Rio Doce serem implementadas. A gente ainda tem a questão da hidrelétrica de Candonga, que foi dragada só o suficiente para voltar a funcionar. Tem muito material ainda naquele local, cerca de 10 milhões de metros cúbicos de rejeito", indicou Fabian Sá. Morador de Colatina observando o Rio Doce, em novembro de 2015. Espírito Santo. Vitor Jubini/A Gazeta Entre as ações que podem acelerar o processo, ele citou a implementação de estações de tratamento de esgoto e o fortalecimento da fiscalização ambiental. "Dentro do plano de ação proposto pelo Novo Acordo do Rio Doce, tem a implementação de estações de tratamento de esgoto ao longo dos municípios da calha do rio. Isso com certeza vai refletir em outros aspectos, melhorando a qualidade da água, do pescado e dos serviços ecossistêmicos que a natureza nos dá de graça", acredita o oceanógrafo. Fabian alerta que as comunidades mais vulneráveis continuarão sentindo os impactos por muitos anos. "As pessoas mais vulneráveis, mais impactadas, são as que vivem do rio, que se alimentam dele todos os dias. Espero que haja um retorno real, não só de indenizações, mas de melhora da qualidade de vida, uma água mais limpa, um pescado menos contaminado". Rio Doce divide Baixo Guandu, no Espírito Santo (ao fundo a esquerda), de Aimorés, em Minas Gerais (a direita). Ana Elisa Bassi Quem estudou a vida humana? Para os especialistas, uma das grandes falhas dos últimos dez anos foi a análise do impacto na saúde humana. Na Vila de Regência, em Linhares, a maioria das pessoas confirma que não foi procurada para qualquer tipo de levantamento. Existem histórias contadas sobre iniciativas que começaram, algumas pessoas chegaram a ter o cabelo coletado logo após o desastre, mas ações não foram adiante e ninguém sabe detalhar o que seria. "Pouco foi feito sobre isso, poucos estudos, e foi uma forma de deixar passar o tempo. A gente ainda não sabe o que aconteceu e o que pode acontecer, mas o fato é: existem metais pesados no ambiente, estão no sedimento, são disponibilizados, às vezes, e a contaminação recomeça. Por isso, tem alertas nas comunidades, não oficiais, para consumo moderado de pescado, para que se previna futuros problemas", disse Joca Thome. Homens observam uma onda de lama se quebrar na praia em Regência, no Espírito Santo, em 2015. O local foi atingido pela lama após o rompimento de barragens de rejeitos da mineradora Samarco, cujos donos são a Vale e a australiana BHP, levada pelo Rio Doce Ricardo Moraes/Reuters Nesta terça-feira (3), a Ufes divulgou que pesquisadores identificaram altas concentrações de metais pesados em alimentos cultivados no estuário do Rio Doce. O estudo aponta que o maior risco está na exposição crônica ao chumbo em crianças, principalmente por meio do consumo de produtos como a banana. Segundo os cientistas, o chumbo foi o principal responsável pelos índices de risco acima do limite de segurança, podendo causar danos neurológicos irreversíveis, como redução de QI, déficit de atenção e alterações comportamentais. Nenhuma das três prefeituras das cidades percorridas pelo g1 respondeu se houve acompanhamento da saúde humana ao longo dos últimos dez anos. O Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também foram procurados para saber se existe alguma proibição, ressalva ou orientação sobre a água e o pescado do Rio Doce e da região marítima costeira do litoral norte do Espírito Santo e também sobre a existência de algum estudo que monitorou ou que ainda monitore as consequências para a saúde da população atingida direta ou indiretamente pelo desastre mas não houve retorno. De acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura, atualmente a pesca está proibida no mar, na área compreendida entre a região de Barra do Riacho, em Aracruz, até Degredo, em Linhares. Pesca ainda está proibida em parte do litoral Norte do Espírito Santo. Arte/g1 "Essa proibição permanecerá vigente por até dois anos a partir da data de assinatura do Novo Acordo do Rio Doce", informou em nota. O documento foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 6 de novembro de 2024. Não existem proibições relacionadas à venda de pescado. Já no Rio Doce, a pesca nunca foi proibida. Tragédia desequilibrou comunidade de pescadores Olhar para os impactos da tragédia de Mariana é ir além da questão ambiental ou da saúde humana diretamente. Há de se considerar também a perda da rotina e da história de família construída por gerações, em localidades como Regência, em Linhares. "O maior impacto foi a perda do modo de vida das pessoas, tanto os pescadores, como o restante da comunidade. Alguns querem manter essa rotina de pelo menos olhar o rio, chegam de manhã no cais, olham o rio e voltam para casa. Isso gerou muitas doenças, pessoas paradas, em casa, doenças psicológicas, alcoolismo, tudo com a perda daquilo que se gostava de fazer", lamentou Joca. Na vila onde onde está a foz do Rio Doce houve ainda o crescimento desordenado da população, que saiu de 1,2 mil moradores antes da lama, para mais de 2 mil, realidade inflada pela busca por auxílios financeiros. Vila de Regência, em Linhares, Norte do Espírito Santo. TV Gazeta "Surgiram pescadores que não são, de fato, que acabaram sendo cadastrados assim por erro de metodologia da Fundação Renova, o que também desestabilizou a população", apontou. O Novo Acordo do Rio Doce garantiu a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) da Foz do Rio Doce, com 45.417 hectares entre as cidades de Linhares e Aracruz, no Norte do estado. Além de aumentar as iniciativas de conservação ambiental, com a unidade se espera também minimizar os impactos sociais. "Essa unidade de conservação é um projeto de mais de 30 anos, diante dessa tragédia, para que a gente pudesse reservar um território para pesca artesanal e eles pudessem continuar o seu modo de vida. A ideia dessa unidade é resguardar esse território e capacitá-los para fazer uma pesca um pouco mais oceânica, distante da foz e das áreas mais contaminadas", explicou Joca. A APA ainda está em fase de estruturação, mas deve contar com a participação direta das comunidades. “A ideia é envolver os próprios pescadores, os filhos dos pescadores, na gestão dessa unidade. Eles serão os trabalhadores, os guardiões e os pesquisadores também, porque tem muita gente da comunidade que aproveitou esse período para estudar.” A criação foi proposta pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A região da foz do Rio Doce abriga uma das mais ricas biodiversidades da costa brasileira, com 255 espécies de aves, 47 de anfíbios, 54 de répteis e 54 de mamíferos. Foz do Rio Doce, em Regência, Linhares, em outubro de 2025. Espírito Santo TV Gazeta A foz do Rio Doce também é a única área continental de desova da tartaruga-de-couro no Brasil, dando à APA papel estratégico na preservação da espécie. Joca falou ainda sobre a expectativa da instalação de um instituto federal voltado para a atividade econômica da Foz do Rio Doce. "A gente espera coroar esse processo também com a provável instalação do Instituto Federal de Educação com o tema Economia do Mar, que vai capacitar todos esses jovens às profissões do futuro, inclusive relacionado às atividades portuárias que tem no entorno dessa comunidade, zona de processamento de exportação. É importante para o Estado e importante para a região também", afirmou. Captação de água do Rio Doce "Água doce para os navegantes". "Água para beber, que não era salgada". Assim ficou conhecido pelos viajantes naturalistas no século 19 e depois foi nomeado o Rio Doce, que nasce em Minas Gerais e encontra o mar no litoral Norte do Espírito Santo. Entretanto, essa fonte de água confiável para o homem, parece não existir mais. Colatina é a única cidade do Espírito Santo que depende 100% da água do Rio Doce para o abastecimento da população. A cidade possui pouco mais de 120 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por esse motivo, em 2015, quando houve a confirmação de que a lama de rejeitos atingiria o município, uma contagem regressiva começou. Durante 13 dias, uma operação foi montada para tentar garantir o abastecimento mesmo com a interrupção da captação no rio. Além de armazenar o que foi possível, quem pôde comprou água mineral e zerou os comércios e estoques da cidade. Nas casas, a água foi estocada de todas as formas, desde baldes a caixas d’águas extras e até em piscinas. A lama chegou à cidade no dia 18 de novembro. Caminhões-pipas buscavam água em lagoas da região e levavam o carregamento para as estações de tratamento, garantido o abastecimento em locais como hospitais e asilos. Com apoio da Samarco, também houve a distribuição direta para a população em 18 pontos da cidade. O Exército também auxiliou na divisão de reservatórios pela cidade e houve uma multiplicação de poços artesianos, principalmente em regiões mais afastadas do centro. Confusão durante distribuição de água mineral em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, em novembro de 2015. Cedoc/TV Gazeta Quem não conseguiu fazer um estoque em casa, precisou buscar umas dessas formas de acesso, e o que se viu foram reclamações e desespero. Moradores se revezavam em filas dia e noite para garantir que teriam acesso. A quantidade era racionada a dois litros por pessoa. Quando a água era liberada, em alguns momentos a confusão era generalizada. Houve relatos de brigas e até tiros disparados durante a confusão. Após cinco dias sem usar a água do Rio Doce e com reservatórios vazios, a prefeitura recebeu o resultado positivo de um laboratório particular contratado e decidiu retomar a captação no rio, mesmo com a presença visível de lama. A empreendedora Penha Zucolotto, de 64 anos, se lembra do sufoco para conseguir levar para casa a água distribuída, com horas de fila e o medo de confusão. Desde então, não abriu mão da água mineral em casa, era um luxo que foi absorvido no dia a dia. "Sempre tenho dois ou três galões de 20 litros em casa, não deixo faltar. Pago cerca de R$14 em cada. É um gasto, mas economizo em outras coisas. Eu desconfio da água que é tratada. Falam que tá perfeita mas, por exemplo, na hora de lavar roupa, se deixar muito tempo na bacia forma tipo um pozinho no fundo", falou. A empreendedora Penha Zucolotto, de 64 anos, não abre mão dos galões de água mineral em casa, em Colatina, Espírito Santo. Ana Elisa Bassi Por causa dessa desconfiança, só os banhos e lavagem de roupa são feitos com a água que chega tratada na caixa, o restante é com água mineral. “Faço o cafezinho, lavo a louça, a mamadeira do neto e molho até as plantas se forem brotinhos. E também no trabalho, há 25 anos faço salgados, pão, doces caseiros, empadão para vender, e é tudo com a ajuda dos galões comprados. Se eu não vou consumir na minha família, não vou fazer para os clientes”. E a Penha está longe de ser a única. Quem pode absorver esse gasto faz questão dá água mineral até hoje, o que gerou, inclusive, uma oportunidade de negócio. Em 2015, Colatina tinha 27 empresas que captavam, distribuíam e vendiam água mineral. Atualmente, são 60, segundo dados da Junta Comercial do Estado do Espírito Santo, um aumento de 122%. Sandro Elias e Roberta Monteiro abriram uma distribuidora de água em Colatina, em 2017. Espírito Santo. Ana Elisa Bassi Sandro Elias e Roberta Monteiro são casados e sócios de uma distribuidora de água aberta no começo de 2017. "O Sandro foi atropelado e ficou impossibilitado de atuar no trabalho que tinha. Então, a gente viu que era um bom negócio vender água. Depois, eu parei de dar aulas para educação infantil e vim trabalhar aqui, hoje eu não volto para a sala de aula. Começamos pequenos, com um motoboy, pegando caminhão emprestado. Agora são sete funcionários entre atendentes e motoboys, caminhão próprio, estrutura maior. Vendemos cerca de 700 galões de 20 litros por semana. E no verão, a demanda aumenta por causa do calor", pontuou Roberta. Roberta também afirma que boa parte da população não confia na água captada no Rio Doce, mesmo tratada. "Eu mesma, nos primeiros anos, dava banho no meu filho com água mineral, porque ele teve uma alergia na pele e eu acho que veio da água da caixa. Todo mundo fala disso ainda. Praticamente todos os nossos clientes, especialmente os que compram para residência, não confiam na água tratada. Para beber não dá", falou. Procurada, a Prefeitura de Colatina informou que o Serviço Colatinense de Meio Ambiente e Saneamento Ambiental (Sanear) realiza o monitoramento sistemático da qualidade da água do Rio Doce e de todo o processo de tratamento nas Estações de Tratamento de Água (ETAs). A coleta e análise da água bruta, diretamente no Rio Doce, são executadas por empresa especializada contratada, e, paralelamente, pelo Sanear, que mantém laboratório próprio. Um dos pontos de captação da água do Rio Doce para abastecimento da população em Colatina, Espírito Santo. TV Gazeta O tratamento nas ETAs é do tipo convencional de ciclo completo com etapas de coagulação, floculação, decantação, filtração e desinfecção e conta com monitoramento técnico permanente. A prefeitura afirmou que a água tratada e distribuída pelo Sanear é segura para consumo humano e cumpre todos os parâmetros de potabilidade definidos pelo Ministério da Saúde. "O controle de qualidade é permanente, com análises físico-químicas e microbiológicas realizadas de forma contínua. Não há restrições quanto ao uso da água fornecida, que é considerada própria para todos os fins domésticos, incluindo preparo de alimentos em escolas, unidades de saúde e demais equipamentos públicos", disse. Ao longo dos últimos dez anos, a Prefeitura de Colatina recebeu o montante de R$ 21.773.798,41 referente às ações de reparação conduzidas pela Fundação Renova/Samarco, no âmbito dos programas de saneamento básico e infraestrutura urbana. Ainda há um saldo de R$ 9.533.990,13 a ser repassado para complementação dos contratos em execução, após a homologação do acordo de repactuação entre os entes envolvidos. Em meio à desconfiança, peixes que vem de freezers, poços e tanques 📍 Baixo Guandu Aloísio dos Santos Freire, 57 anos, o Lolô Peixeiro, é nascido em Mascarenhas, Vila de Pescadores de Baixo Guandu, mas mora no Centro da cidade desde 2013. Na época do desastre, era pescador e comprador de peixe do Rio Doce. "Não era só a pesca, a gente podia tomar um banho, fazer um passeio de barco, pensar até num turismo, quem sabe. Hoje eu não vejo ninguém tomando banho". Aloísio dos Santos Freire, de 57 anos, é morador de Baixo Guandu, Noroeste do Espírito Santo. Pescava no Rio Doce até novembro de 2015, hoje, compra peixe na Bahia e revende na cidade. TV Gazeta Um pescador que não pesca mais, Aloísio vai à Bahia comprar peixes para vender no município. "Igual a antes, só o robalo, agora a maioria que vende é de água salgada. Tenho quatro congeladores em casa para guardar a mercadoria. Visito os clientes para venda e entregas", contou. 📍 Colatina Litunoy Araújo, 53 anos, nasceu em Minas Gerais, mas há mais de 40 anos mora em Colatina. Pesca desde criança, documentado desde de 1999 até a presente data, filho de pescador. "Conheço o Rio Doce de ponta a ponta, ele todinho. Também faço os meus próprios materiais, barco, rede, tarrafa. Tudo isso para não pescar mais, é muito triste. Desde o dia 5 de novembro de 2015, nunca mais coloquei o pé no Rio Doce". Litunoy Araújo, 53 anos, é pescador há mais de quarenta anos, mora em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo. Nunca mais colocou os pés no Rio Doce após novembro de 2015. TV Gazeta Araújo colocou à venda a casa no Centro de Colatina que ficava a 500 metros do doce e, há 7 anos, foi pra zona rural do município. Mora em um sítio e cria em poços tambaqui, tucunaré, cascudo, traíra, tilápia, pacu, camarão. É a renda que possui, além do auxílio financeiro mensal emergencial que recebe da Samarco desde 2016 (um salário mínimo, mais 20% por dependente e uma cesta básica). “Ainda assim, é difícil vender as pessoas ficam desconfiadas querendo saber de onde a gente tá tirando o peixe. Antes, quando você pescava, fazia dinheiro a qualquer hora, ia lá no rio, pescava e vendia. Com o valor da Samarco não é assim”. 📍 Regência, Linhares A Suely nasceu em Bananal do Sul, mas mora na vila de Regência há 28 anos. Filhos são nativos, uma tem 25 e outro tem 18 anos. Desde os 12 anos pescava no Rio Doce. É a atual presidente da Associação de Piscicultores da Foz do Rio Doce, que começou em novembro do ano passado, e reúne seis pescadores. A iniciativa do projeto partiu da Fundação Renova. São nove tanques de tilápia, com capacidade de 500 peixes cada. Vendem para a comunidade local. Associação de Piscicultores da Foz do Rio Doce, cria tilápia em Regência, Linhares, Norte do Espírito Santo. Ana Elisa Bassi "Hoje em dia, é difícil encontrar peixe para vender na cidade, restaurante que vende traz de fora. A gente tá começando, é difícil, falta criar uma marca, alguns selos sanitários para escalar as vendas. E para vender tenho que fazer vídeo mostrando como a gente trabalha, como é processo. Eu acho que a gente não vai voltar a pescar como antes. O rio mudou, agora tem um outro estilo de vida para gente". Sem responsabilização criminal Em novembro do ano passado, a Justiça Federal absolveu as empresas Samarco, Vale, BHP Billiton e VogBR, além de 7 pessoas, entre elas diretores, gerentes e técnicos. Entre as pessoas absolvidas está Ricardo Vescovi, presidente da Samarco, na época do rompimento. A decisão justificou a absolvição com base na "ausência de provas suficientes para estabelecer a responsabilidade criminal" direta e individual de cada réu envolvido no caso. Pescador à margens do Rio Doce em Baixo Guandu, em novembro de 2015. Espírito Santo. Vitor Jubini/A Gazeta Novo Acordo do Rio Doce O Novo Acordo do Rio Doce, homologado pelo Supremo Tribunal Federal em 2024, prevê R$ 170 bilhões para reparar e compensar os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. A Samarco informou que desse total: R$ 100 bilhões vão para os governos federal e estaduais, em ações de saneamento, saúde e desenvolvimento social. R$ 32 bilhões são de responsabilidade direta da Samarco, voltados a indenizações individuais, reassentamentos e recuperação ambiental. E outros R$ 38 bilhões já foram aplicados pela Fundação Renova, que está em fase de liquidação. Em relação às indenizações individuais, mais de 288 mil pessoas já foram beneficiadas, com R$ 14 bilhões pagos até setembro de 2025. Só no Espírito Santo, 120 mil pessoas receberam R$ 6,2 bilhões. Somando tudo o que já foi pago pela Fundação Renova (em liquidação das atividades) e pela Samarco, os valores ultrapassam R$ 32 bilhões em indenizações e reparações. A empresa informou que os pagamentos devem ser concluídos até dezembro de 2026, e que não há mais novas portas de indenização abertas, apenas análises em andamento. A Samarco disse ainda que o acordo firmado em 2024 inclui ações de monitoramento contínuo da qualidade da água, sedimentos e fauna aquática. Também são realizados estudos para avaliar a dinâmica natural de recomposição do ecossistema costeiro. Dez anos após desastre e Mariana (MG), cais do porto de Regência, onde o Rio Doce encontra o Oceano Atlântico, no litoral Norte do Espírito Santo, quase não vê mais a saída de barcos de pesca. Ana Elisa Bassi Os dados gerados pelo monitoramento hídrico na bacia do rio Doce, realizado pela Samarco, indicam que a qualidade da água apresenta parâmetros similares àqueles anteriores ao rompimento da barragem de Fundão. Os dados do monitoramento hídrico da bacia do rio Doce podem ser acessados no Portal Monitoramento Rio Doce. A empresa retomou suas atividades operacionais de forma gradual, em dezembro de 2020, sem utilização de barragem para disposição de rejeitos. A Samarco alterou seu processo produtivo incorporando o sistema de filtragem para empilhamento a seco do rejeito arenoso, que corresponde a 80% do rejeito gerado. Os outros 20% são dispostos com mais segurança em cava confinada. No Espírito Santo, a Secretaria de Estado de Recuperação do Rio Doce foi criada para gerir os recursos provenientes do acordo. O estado vai receber R$ 14 bilhões de reais ao longo de 20 anos. Três bilhões serão reservados para um fundo de desastres naturais. Os outros R$ 11 bilhões serão usados para projetos de recuperação do Rio Doce e também projetos de infraestrutura, estradas, saúde, educação, esporte e lazer. Onze municípios capixabas têm direito a indenização: Baixo Guandu, Marilândia, Colatina, Linhares, Aracruz, Fundão, Serra, Sooretama, São Mateus, Conceição da Barra e Anchieta. Onze municípios capixabas têm direito a indenização proposta pelo Novo Acordo do Rio Doce: Baixo Guandu, Marilândia, Colatina, Linhares, Aracruz, Fundão, Serra, Sooretama, São Mateus, Conceição da Barra e Anchieta. Serd Apesar de não estar na bacia do Rio Doce, Anchieta, no litoral Sul do Espírito Santo, entrou no acordo porque teve perda de arrecadação de imposto, já que é onde fica a sede da Samarco no estado e a empresa ficou cinco anos fechada. Desses 11 municípios, cinco decidiram não assinar o acordo (Baixo Guandu, Colatina, Marilândia, Sooretama e Aracruz). Esses vão esperar o resultado do julgamento que ocorre em Londres, na Inglaterra. O secretário de Estado de Recuperação do Rio Doce, Guerino Balestrassi, entende que o trabalho de recuperação começou a ser feito ao longo dos últimos anos, com a Fundação Renova, mas que um volume maior de iniciativas vai ser apresentado agora, com o Governo Federal e por consequências os Estaduais e Municipais assumindo a responsabilidade das ações a partir do Novo Acordo do Rio Doce. “Estão sendo feitas obras de infraestrutura importantes. Grande obras de asfalto de Barra do Riacho a Regência, de Regência até Bebedouro, de Povoação até o Centro de Linhares. Em Colatina, a licitação do Hospital Silvio Avidos, apoio à Terceira Ponte. Temos ainda um investimento grande, são mais de R$ 300 milhões ao longo dos 20 anos em reflorestamento e saneamento rural, estão é um cardápio muito grande de projetos”, afirmou o secretário. Guerino falou sobre a importância de tratar com responsabilidade a aplicação dos recursos e do sonho de voltar a ver o Rio Doce como conheceu na infância. “É importante que a gente aproveite bem esses recursos, que sejam aplicados corretamente, que não se misture o orçamento do estado com o orçamento da recuperação da bacia. Agora é pegar boas experiências pelo mundo e aplicar aqui. Já temos os recursos, se a gente captar, cumprir bem, vamos poder executá-los. A ideia é que a gente possa, sem dúvida, voltar a beber água do rio, nadar no rio, como foi na minha infância”, falou Guerino. Foto aérea mostra o Rio Doce inundado com lama após o rompimento de barragens da mineradora Samarco, cujos donos são a Vale e a australiana BHP, em uma área onde o rio se une ao mar na costa do Espírito Santo Ricardo Moraes/Reuters Vídeos: tudo sobre o Espírito Santo Veja o plantão de últimas notícias do g1 Espírito Santo

FONTE: https://g1.globo.com/es/espirito-santo/norte-noroeste-es/noticia/2025/11/05/rio-doce-ainda-e-paciente-cronico-dez-anos-depois-do-desastre-de-mariana.ghtml


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

Top 5

top1
1. Raridade

Anderson Freire

top2
2. Advogado Fiel

Bruna Karla

top3
3. Casa do pai

Aline Barros

top4
4. Acalma o meu coração

Anderson Freire

top5
5. Ressuscita-me

Aline Barros

Anunciantes